quarta-feira, setembro 13

Deixem-nos trabalhar

"As taxas de emprego sobem à medida que as populações têm níveis de formação mais altos. Esta afirmação reflecte-se no caso português: entre a população dos 25 aos 64 anos que tem o ensino básico, 72 por cento estão a trabalhar; mas entre os que têm o ensino secundário são 80 por cento os que têm emprego e quanto aos licenciados, nove em cada dez estão inseridos no mercado de trabalho. Valores que andam acima dos da média da OCDE: 84 por cento dos que fizeram uma formação superior estão empregados; em contraste, só 56 por cento dos que têm menos do que o secundário é que estão a trabalhar". (Público)
Claro. Neste país só os analfabetos é que sofrem de desemprego. Mentira.
Nove em cada dez licenciados estão inseridos no mercado de trabalho???? Essa é a anedota do ano. Inseridos? Bem, se considerarmos efectivamente inseridos os que trabalham de graça, os que trabalham muito abaixo das qualificações e ganhar menos ou pouco mais do que o salário mínimo nacional, e os que conseguiram aproveitar as operações de maquilhagem em termos de política de emprego que são os estágios profissionais, então, sim, temos toda a gente a trabalhar. Agora digam-me: para ganhar algumas misérias que se ganham, sem perspectivas de subidas de carreira nem sequer de manutenção do emprego, será mesmo necessário perder tantos anos a tirar cursos, onerosíssimos em tempo e dinheiro, muitos deles com professores inúteis e apenas preocupados em arrecadar salários de várias universidades sem lá por os pés? Será mesmo? Eu tenho colegas de escola a trabalhar em fábricas, hipermercados e pedreiras a ganhar tanto ou mais do que a maioria dos licenciados - aproveitaram estes anos para trabalhar, em vez de andarem a aturar professores.
Eu escolhi tirar um curso superior. Se fosse começar hoje, de novo, não sei se o faria, e nem se pode dizer que até hoje tenha tido muitos azares. Formação é preciso, mas experiência profissional, e ordenado ao fim do mês, mais ainda. As pessoas saem de casa mais tarde, casam mais tarde, tem filhos mais tarde, realizam objectivos muito mais tarde, isto se os conseguirem realizar.
Emprego, para os senhores que fazem estas contas, é tudo aquilo que possa ser razão para uma pessoa sair de casa de manhã e voltar ao final da tarde. Ligam o nível de formação à empregabilidade, mas de facto isso não é necessáriamente assim.
Criação do próprio emprego. Um facto. Apoios vários. Mas isso só funciona para negócios inovadores, que tragam mais valia ao mercado. Muita gente começa, sem saber se pode e sabe sequer continuar. As entidades douram a pílula, e o jovem licenciado sem experiência profissional e o mínimo de bases em gestão empresarial abre a sua chafarrica. O apoio prometido em termos monetários lá vai chegando, mas o apoio em termos de consultoria em gestão falha redondamente. É a política do "tomem lá o dinheiro e amanhem-se".
E lá voltamos ao mesmo. Desemprego e desmotivação geral.
E soluções para isto?