segunda-feira, outubro 22

Já não se pode dizer nada... II

Andamos cá uma maré.... Meus amigos, há que ter tento na língua, que não se pode mesmo dizer nada. Desta vez, é um procurador-geral na berlinda, e cheira-me que deixou de estar nas boas graças do poder - falou demais, desabafou, e agora, tem que se explicar ao povão. Não que ao povão interesse, quem sofre com as escutas nem sequer é o cidadão comum, digo eu - as autoridades querem lá saber do carteirista, do traficante miúdo e do proxeneta - o que interessa é arranjar podres de gente conhecida, para vender ao 24 horas e ao Sol... mas os políticos, especialmente, ficaram todos com os respectivos dérrières (e já se sabe, quem tem dérrière, tem medo...) a arder - pudera, sabe-se lá o que se pode andar aí a escutar...
O senhor falou e agora, aguente-se. Das duas uma (que ainda não percebi muito bem qual): ou o Homem acha perfeitamente normal que se escute o pessoal à brava, à imagem dos tempos pidescos (não que eu ache isso absolutamente mal, desde que apenas no decurso de investigação de suspeitos de crimes, e que os que se escutou fique em segredo de justiça, como deve, e seja apenas usado para fins de investigação criminal), ou então aquilo foi um desabafo de quem já está farto de não conseguir controlar as coisas... e aí, é mau...
Isto costumava ser um país de expressão livre... mas todo o jardim idílico tem a sua cercazita, não é?

terça-feira, outubro 2

Já não se pode dizer nada...

"Pela boca morre o peixe" é o ditado que melhor caracteriza este país neste momento. Há pessoas despedidas, incomodadas, admoestadas, criticadas por falar demais: somos um país de tagarelas, está visto.

Mais uma vez, o caso "Maddie". Li no Público a notícia de hoje sobre o terrível thriller que se está a tornar este caso. Terrível, pelo crime que provavelmente foi cometido, mais terrível ainda pela maneira como, provavelmente, anda a ser encoberto...


O Coordenador da PJ de Portimão, Gonçalo Amaral, foi demitido desse cargo, por ter dito ao DN que a polícia inglesa só anda a investigar as pistas que mais convinham ao casal McCann, dicas e informações por estes fornecidas e trabalhadas.


Duas notas, apenas: se o homem disse isto, sabendo de certeza as consequências que daí adviriam, é porque a mostarda lhe chegou ao nariz, e transbordou - e aí, há que ver o fundo da questão: se é verdade, e até acredito que seja, qual seria o interesse do homem em ser despedido por mentir?! A ser assim, mais uma vez se pode antever o futuro deste caso - o arquivamento.


A outra nota: OK. Concordo que, na posição do homem, talvez ele tenha falado demais, talvez a Direcção Nacional da PJ entenda que esta atitude atiça o sentimento de revolta contra os McCann que já por aí paira, e que isto fere o segredo de justiça (qual segredo????). O Ministro da Justiça referiu a clara colaboração entre as autoridades portuguesas e inglesas (pois, pois...), e à não relevância destas declarações do Coordenador. Bem, tanto não relevou, que o demitiram. Foi talvez para dar o exemplo. E que tal decapitarem-no em praça pública por ter dito mal dos nossos irmãos ingleses?? Também dava o exemplo... Realmente....
Seja como for, o homem exprimiu o que lhe moía a paciência, e isso é que me preocupa (não a paciência dele, mas a verdade das declarações).
Cegos, surdos e mudos, temos nós que ser hoje em dia...