terça-feira, abril 30

Good Hair Day


Ora por sugestão que se me assomou à janela do PC, vinda do Pensador Zarolho, nada melhor do que responder à letra com a magnanimidade do feminismo que é a  actividade lúdica de ir ao Cabeleireiro. Mas falo das mulheres no cabeleireiro, não dos homens. Nada contra os homens que vão aos cabeleireiros... mas desde que essa moda pegou e quando acontece de entrar um indivíduo do sexo masculino num salão, as conversas de gajas nos salões de cabeleireiro mudam radicalmente. A menos que seja um gay demasiado efeminado, que esse enturma-se perfeitamente ao fim de uns minutos. 
Homens deste mundo e arredores: enganam-se redondamente se pensam que as gajas vão ao cabeleireiro arranjar o cabelo.  Isso é o que elas DIZEM "ai e tal, vou arranjar o cabelo para ficar mais bonita para ti, e coiso." Não. Elas vão ao salão por que precisam: 1 - de saber cusquices novas; 2 - de contar uma aventura nova; 3 - de contar uma desgraça nova; 4 - para ler a TV Guia, a Nova Gente, a Maria, a Ana + Atrevida , a VIP e a Hola de borla, passando pelas revistas de penteados de Paris com mais de 15 anos que todas as cabeleireiras têm; 5 - de falar horrores dos homens em geral, dos maridos/namorados em particular; 6 - de falar maravilhas do namorado/marido novo e mostrar as fotos dos passeios românticos; 7 - de exibir as fotografias dos bébés delas e das amigas (quando aplicável); 8 - de pedir e dar conselhos; 9 - de arranjar as unhas; 10 - e, se der tempo, dar um jeito no cabelo. 
Ora isto é uma ordem de trabalhos digna de uma assembleia de accionistas da EDP, por isso o frenesim nos cabeleireiros é uma constante. 
A gaja chega, olha em volta, para ver se há gente suficiente à espera para iniciar uma conversa. Mínimo  6 gajas na lista de espera. Escolhe os sábados de manhã e as sextas à tarde para fazer estas incursões à actualidade social do local ("cabeleireiro", para os amigos). 
E começa por comentar, de TV Guia em riste e dedo espetado numa foto, que a Júlia Pinheiro está muito mais magra, que será que ela fez... E que a Beyoncé tem o rabo descaído. 
E em 10 minutos alguém responde, pegando no assunto do rabo descaído, que a loira do 3º esquerdo do prédio ao lado da pastelaria anda enrolada com o marido da dona do talho. 
Palavra puxa palavra, não há tabus (a menos que entre algum homem no salão). Desde a incompetência sexual do marido, desde os piropos ouvidos no supermercado, até à nova colecção da Zara, o anel de noivado recebido no passado fim de semana, a filha da vizinha que fugiu com um homem 20 anos mais velho, a novela das 9, a Soraia Chaves que está velha, o Cauã Reymond que é um pedaço de mau caminho, tudo se discute, tudo se esmiúça e tudo se comenta. 
Com a moda nova dos homens que frequentam cabeleireiros, estas actividades tão exclusivamente femininas esmoreceram, mas abriram-se novas possibilidades: de vez em quando, lá aparece um aprendiz de  Cláudio Ramos a entrar porta dentro de um salão cheio de mulheres. Pára tudo. Silêncio. mas no segundo seguinte, o espécime mostra que é híbrido, e levanta a mãozinha para dizer um sonoro e esganiçado "Bom dia, Meninas!!!" - e é a loucura do gajedo: um homem que fala a linguagem das gajas!!!!! Em 10 minutos, está tudo a deliberar em conjunto sobre fetiches, comprimidos para emagrecer, e cortinas com adamascados iguais às da Princesa Letízia. 
Seja para lavar a alma das agruras da existência feminina, ou desdenhar da vida alheia,  ou somente saber as novidades, a mulher alimenta o seu ego cada vez que vai ao salão. E, de brinde, ainda sai de lá de unha arranjada e cabelo novo....




segunda-feira, abril 29

Beleza é Fundamental(ista)

Ora aqui o Sr. Omar meteu-se numa boa embrulhada. Não, não traficou nada, nem pôs bombas em lado nenhum, nem fez nenhum vídeo anti-capitalista, não violou ninguém (pelo menos que se saiba) , não tentou invadir país nenhum país, nem nada disso. 
Estava a pessoa descansadamente num evento cultural na Arábia Saudita, e eis senão quando foi abordado pela Polícia Religiosa de Riade, que, após provavelmente lhe pedir os documentos, o informou que teria que sair do país. Deve, obviamente, ter perguntado porquê, ao que prontamente lhe responderam: "Ai e tal, o senhor é demasiado bonito, tem que sair do país porque as gajas andam todas doidas e já começaram a dizer que os maridos eram feios, e já tivemos que apedrejar uma data delas, e daqui a nada não temos mulheres, que com a nossa política de matar ou exportar raparigas à nascença, isto começa a parecer a festa da mangueira aqui na Arábia." O Sr Omar ainda retorquiu, dizendo que podia tapar a cara com a espécie toalha de mesa que trazia na cabeça, ou pôs uns óculos de sol,  mas o Sr. Polícia Religioso disse que não adiantava nada tapar a cara, pois não ajudava nada o facto de o senhor Omar estar ali em tronco nú, de pele oleada, six pack em evidência, e com uns jeans elásticos, que lhe faziam um belíssimo traseiro, por sinal. Nada feito. 
E o senhor Omar, que é um educado fotógrafo de moda, actor e poeta, obedeceu, e lá foi embora, carregando a tristeza de ser bonito. Diz-se que até vestiu uma T-Shirt ao sair do país, em sinal de respeito. 

A mim, choca-me apenas uma coisa... 

UM EVENTO CULTURAL NA ARÁBIA SAUDITA?????? WTF????

Quanto ao resto, nada de novo, pelo menos o fundamentalismo começa a dar mostras de alguma democracia, ao reconhecer que não são só as mulheres os veículos da tentação do Demo. 


domingo, abril 28

One chef down


“Vou para fora porque em Portugal não me sinto útil”, diz Fausto Airoldi.

Depois de 30 anos a lutar pela identidade da cozinha portuguesa, o chef Fausto Airoldi vai deixar Portugal. O primeiro destino é Macau."

In Publico Life & Style


Já muita gente disse que este país é um país de parolos. E, no fundo, até é mesmo. Ou nem é preciso ser no fundo. 
Somos um povo de gente que gosta de sardinhas, de frango de churrasco e de cabidela. E de garrafões de vinho. 
Gostamos de feijoadas e de cozidos. De enchidos e salgados, e também gostamos de arroz doce e aletria. E melancia fresca e melão de Almeirim no Verão. 
Na minha terra vai-se comer fora para comer Sarrabulho ou um Bacalhau à Casa. 
Eu, como a generalidade dos portugueses, gosto de ir comer fora para encher o bandulho. Se me apresentam um prato do tamanho de uma pia da louça com duas azeitonas a boiar numa espuma verde com ar de experiência química com uns fios a sair e a serpentear pelo prato, eu fico a pensar que fui enganada, até porque já sei que vou pagar o equivalente a 5 tiras de entrecosto grelhado e duas doses de ensopado de borrego. Com batata e salada. E pago isso para ficar com a barriga cheia.. de fome. 
O bom português é assim. Até paga, mas gosta de comer. E bufa se não lhe dão de comer como manda a sapatilha.
E a nouvelle cuisine, ou cozinha de autor, não se compadece com esse estilo de vida. 
Gosto da arte de cozinhar. Ou melhor - gosto de OBSERVAR a arte de cozinhar, porque não percebo nada de cozinha e além de uns escassos itens mal amanhados, pouco mais sei fazer. 
Filha de um Chef que o foi durante 40 e tal anos, português de gema que prefere ficar em casa a grelhar um frango num grelhador feito de um bidão por ele próprio, debaixo duma palmeira a sair de casa para gastar dinheiro em restaurantes, apanhei-lhe o gosto por comer à portuguesa. 
Das mãos dele vi sair verdadeiras obras de arte culinária, no hotel onde trabalhava. Nunca quis saber muito de nouvelle cuisine, dizia que tinha muita sorte em não precisar de sequer ouvir falar nisso. Cozinhava a sério, para pessoas com fome. Umas com bom gosto, outras com menos, mas todas com fome. E matava a fome aos turistas não com qualquer lavadura de buffet, mas com iguarias que faziam as pessoas voltar e perguntar "tem cá aqueles bifes com molho que tinha o ano passado???".
Eu sei. Nada a ver com os Chefs que vemos na TV. Esses sim, ganham bons punhados de euros para fazer aquelas gaiolas no meio dos pratos que poucos sabem como comer, sendo que a maior parte se come à mão, mesmo. Não digo que não goste de ver. Mas dificilmente iria gastar dinheiro num restaurante onde soubesse de antemão que iria passar fome. E pagar principescamente, pior. 
Mas Portugal mudou. Portugal já pouco dinheiro tem para comer. Até os ricos se contém. 
Num país com pouco dinheiro para comer, em que as famílias já saem só ao Domingo para ir ao McDonalds comer menus ou à churrasqueira do fundo da rua onde se compram 2 frangos e oferecem as batatas fritas, a cozinha de autor fica onde nunca saiu - no espectro de uma elite. E uma elite cada vez mais, ela também, pobre. 
Por isso, os nossos artistas da culinária emigram. Vão embora, desiludidos com o facto de este ser um país de parolos. 
Mas querem saber? Eles não são mais do que as centenas de portugueses que emigram hoje em dia. Mas estes, não emigram pela desilusão de não verem a sua arte valorizada. Emigram porque não têm dinheiro para comer, e para alimentar as suas famílias. E vão sem qualquer garantia. Estes artistas, com os seus conhecimentos, vão com emprego certo e salário sempre chorudo. 
Eu respeito o trabalho de todos. destes nossos chefs que emigram também. Mas não é necessário vir dizer que estão desiludidos com o país porque o português não reconhece a sua arte. Não precisamos que nos chamem parolos, nós sabemos que o somos, só não gostamos que nos chamem isso.
São obrigados a emigrar? Paciência. Muitos pobres mortais também. e muitos querem e não conseguem. E a maior parte que vai , quer voltar um dia.