quarta-feira, dezembro 23

Amália? Hoje?

Agora vou ser mázinha. Deveras mázinha. Sem dó nem piedade.
Só num pais de tacanhos costumes, como o nosso, é que se ouvem e lêem coisas parvas como as críticas que tenho lido acerca deste álbum.
O album Amália Hoje é uma lufada de ar fresco na música portuguesa, e por acaso foi um sucesso este ano.
E é bom porquê? Porque é uma interpretação fresquíssima de fados da Amália, porque é de um grupo de músicos experientes e oriundos de bases diferentes do panorama musical (The Gift, Moonspell, Turbo Junkie...), e porque não quer tirar mérito nenhum ao que está feito: apenas vestiram o fado com uma roupagem pop electrónica, muito actual, muito in, e levaram-na a níveis onde o fado provavelmente nunca entraria.
Num quintal como este nosso Portugal, em que não se pode mexer nos três F (Fado, Futebol e Fátima), bastou mexer na Amália, que descansa no Panteão, para aparecer uma turma de tamancos a bater no peito e a dizer que é uma afronta, e que é horrivel, e parvoíces do género...
Uma afronta porquê? Os direitos de autor estao pagos e bem pagos, a família da Amália está a ganhar dinheiro com isto; muita gente nunca tinha olhado para os fados da Amália com olhos de ver , e depois de ouvir isto, percebeu a beleza dos poemas e foi pesquisar o original. Tornou aquele tipo de música, que é mais ou menos estanque, numa coisa costomizável, adaptável, acessível e - é verdade - comercial. E ouve-se nos bares, nas discotecas, as miúdas sonham e deliram a ouvir isto, ouve-se nos restaurantes selectos, e é o genérico de uma novela (e, por incrível que pareça, não fica Kitsch!...).
Não se quer imitar ninguém. Se isto é imitar, prendam já Cátias Guerreiros, Camanés, e outros fadistas-mirins que rodopiam à volta das memórias da Amália, a tentar ser como ela. Amália Hoje é mais actual, é mais abrangente - é mais diferente, e é por isso que é bom.
Os artistas ganham dinheiro com isto. Pois Ganham. E depois? A Amália também ganhou, e mesmo depois de morta continua a facturar... E todos os outros como ela.
A memória das pessoas e a memória cultural... é tudo muito lindo, mas vamos lá a deixar a tacanhez de lado e começar a olhar para as coisas como sujeitas a evolução... Cultura, evolução, progresso.
Faz muita falta abrir horizontes, a este povão. Ai faz, faz.

1 comentário:

Profundo Olhar disse...

100 % DE ACORDO,ESTE QUINTAL ESTÁ A REGREDIR OU A EVOLUIR???