segunda-feira, fevereiro 2

Deixem-nos trabalhar!!!!!!!!

"Trabalhar dignifica o Homem", diz-se. Pois dignifica. Mas não dignifica TODO o Homem, às vezes até des-dignifica alguns (que foi? eu tinha um prof. que inventava palavras. Se ele pode, eu também posso!).
Toda a gente quer trabalhar; melhor, toda a gente quer um emprego. Melhor ainda, toda a gente quer mesmo é um salário ao fim do mês (se tiver um emprego que não dê muito trabalho, melhor ainda). No entanto, esta ânsia pelo salariozinho certinho para gastar no centro comercial ao fim-de-semana, ou nos copos, surge nestas novas gerações, à qual assumo que também pertenço, cada vez mais tarde: o pessoal põe-se a viver às custas dos pais até aos 30 e muitos, e está tudo muito bem; e nem casando e tendo rebentos desgrudam da saia da mãe. A vida está difícil!!
E porquê?
Tristemente, chegamos a um ponto em que ninguém sabe o que é ter que trabalhar para ganhar a vida e pagar as contas. Vence a teoria do "pai paga" e do "filhinho que não pode passar necessidades" e do "filhinho que é muito novo para sofrer as agruras do trabalho". No fundo, a maior parte dos pais pensa que está a zelar pelos filhos com os mimos, o apartamento perto da universidade, o carrinho novo para ir para a universidade, as roupinhas de marca para não ser discriminado na universidade, o pc portátil para exibir nos cafés, etc, mas, muito realisticamente, estão a passar um pomposo atestado de incompetência aos amados descendentes. E a impingir-lhes o péssimo hábito de aguardar que a maçã caia da arvore para poderem comer, o que contraria qualquer instinto de sobrevivência. Será que é por sermos racionais que somos mais incapazes de viver por nós próprios?

Talvez. Mas o facto é que a maior parte dos nossos meninos e meninas andam a estudar anos a fio, à custa de alguém, a pedinchar mesada amiúde, a exigir tudo e um par de botas, para depois acabarem os cursos e ficarem exactamente na mesma - a depender da mãmã. É um facto, não há empregos, estamos em crise.

Mas o mais caricato, é que o próprio sistema induz a estes hábitos, senão vejamos:

Um tipo anda a estudar uma data de anos, na maior das moinas, a depender de quem lhe pague as contas, o alcool e a farpela; acaba o curso, e, realmente, a unica coisa que é capaz de arranjar são os estágios profissionais. E lá vai ele, ganhar 800 € por mês, continuar a divertir-se porque agora tem mais dinheiro (muitas vezes, os pais continuam a pagar as contas, coitadinho do menino, o que são 800 €??); acaba o estágio, não aprendeu grande coisa, volta para casa da mãe e lá fica à espera de uma cunha. Fica depressivo porque não consegue manter o nível de vida que tinha, e agora é controlado directamente pelo pai;

Já um tipo que trabalhe para pagar os estudos (sim, há quem tenha que o fazer!!!), que se orgulha de viver com o pouco que ganha a fazer uma coisa qualquer que lhe permita pagar pelo menos o suporte básico de vida (casa, comida, livros e transporte), que não tem grandes tempos para moinas porque tem que pensar nos estudos e no trabalho, esse pobre acaba sempre por ser discriminado de duas maneiras, pelo menos: os colegas ostracizam-no porque está sempre a contar os tostões e o tempo que não tem para ir com eles para a borga; e depois, e mais grave, é discriminado pelo próprio sistema, que lhe veda o acesso a iniciativas como os estágios profissionais numa area para a qual se esforçou tanto a estudar, custeando tudo, porque já descontou para a segurança social...

Na realidade, o que vale mais? O parasitismo filial de depender do papá até para comprar uma cerveja, ou a iniciativa de começar a produzir alguma coisa?
Felizmente, as coisas vão mudando, e parece que, ultimamente, e fora o âmbito dos estágios profissionais, no sector privado vai-se dando mais importancia à iniciativa para trabalhar, à experiencia profissional, e vão ficando para trás os que nunca fizeram nada para além de ter uma santa a boa vida de estudante. Tem mesmo que ser assim, porque já não há empregos ideais, e, se os há, são para uma estrita minoria. Temos que nos adaptar, temos que batalhar, temos que suar e praguejar contra o nosso trabalho, mas sempre com a esperança de que tudo vai melhorar. Quem o faz sabe que é assim porque sabe que merece. Agora, quem não merece... que se fique pelo sofá da mãe a ver tv cabo, será o mais indicado.

Contra mim falo. Mas falo porque sei que podia ter feito as coisas de maneira diferente, mas felizmente fui-me emendando a tempo. E é uma emenda contínua, uma evolução que não acaba, penosa mas construtiva.

É como a cena do porquinho e da casa de betão, certo?



3 comentários:

Capitão Merda disse...

Eu felizmente não tenho filhos.
Mas se tivesse... pobres deles, que estavam bem fodidos comigo!

Casemiro dos Plásticos disse...

Isto já não é o que era...

Profundo Olhar disse...

Better days Amiga.....