Ora por sugestão que se me assomou à janela do PC, vinda do Pensador Zarolho, nada melhor do que responder à letra com a magnanimidade do feminismo que é a actividade lúdica de ir ao Cabeleireiro. Mas falo das mulheres no cabeleireiro, não dos homens. Nada contra os homens que vão aos cabeleireiros... mas desde que essa moda pegou e quando acontece de entrar um indivíduo do sexo masculino num salão, as conversas de gajas nos salões de cabeleireiro mudam radicalmente. A menos que seja um gay demasiado efeminado, que esse enturma-se perfeitamente ao fim de uns minutos.
Homens deste mundo e arredores: enganam-se redondamente se pensam que as gajas vão ao cabeleireiro arranjar o cabelo. Isso é o que elas DIZEM "ai e tal, vou arranjar o cabelo para ficar mais bonita para ti, e coiso." Não. Elas vão ao salão por que precisam: 1 - de saber cusquices novas; 2 - de contar uma aventura nova; 3 - de contar uma desgraça nova; 4 - para ler a TV Guia, a Nova Gente, a Maria, a Ana + Atrevida , a VIP e a Hola de borla, passando pelas revistas de penteados de Paris com mais de 15 anos que todas as cabeleireiras têm; 5 - de falar horrores dos homens em geral, dos maridos/namorados em particular; 6 - de falar maravilhas do namorado/marido novo e mostrar as fotos dos passeios românticos; 7 - de exibir as fotografias dos bébés delas e das amigas (quando aplicável); 8 - de pedir e dar conselhos; 9 - de arranjar as unhas; 10 - e, se der tempo, dar um jeito no cabelo.
Ora isto é uma ordem de trabalhos digna de uma assembleia de accionistas da EDP, por isso o frenesim nos cabeleireiros é uma constante.
A gaja chega, olha em volta, para ver se há gente suficiente à espera para iniciar uma conversa. Mínimo 6 gajas na lista de espera. Escolhe os sábados de manhã e as sextas à tarde para fazer estas incursões à actualidade social do local ("cabeleireiro", para os amigos).
E começa por comentar, de TV Guia em riste e dedo espetado numa foto, que a Júlia Pinheiro está muito mais magra, que será que ela fez... E que a Beyoncé tem o rabo descaído.
E em 10 minutos alguém responde, pegando no assunto do rabo descaído, que a loira do 3º esquerdo do prédio ao lado da pastelaria anda enrolada com o marido da dona do talho.
Palavra puxa palavra, não há tabus (a menos que entre algum homem no salão). Desde a incompetência sexual do marido, desde os piropos ouvidos no supermercado, até à nova colecção da Zara, o anel de noivado recebido no passado fim de semana, a filha da vizinha que fugiu com um homem 20 anos mais velho, a novela das 9, a Soraia Chaves que está velha, o Cauã Reymond que é um pedaço de mau caminho, tudo se discute, tudo se esmiúça e tudo se comenta.
Com a moda nova dos homens que frequentam cabeleireiros, estas actividades tão exclusivamente femininas esmoreceram, mas abriram-se novas possibilidades: de vez em quando, lá aparece um aprendiz de Cláudio Ramos a entrar porta dentro de um salão cheio de mulheres. Pára tudo. Silêncio. mas no segundo seguinte, o espécime mostra que é híbrido, e levanta a mãozinha para dizer um sonoro e esganiçado "Bom dia, Meninas!!!" - e é a loucura do gajedo: um homem que fala a linguagem das gajas!!!!! Em 10 minutos, está tudo a deliberar em conjunto sobre fetiches, comprimidos para emagrecer, e cortinas com adamascados iguais às da Princesa Letízia.
Seja para lavar a alma das agruras da existência feminina, ou desdenhar da vida alheia, ou somente saber as novidades, a mulher alimenta o seu ego cada vez que vai ao salão. E, de brinde, ainda sai de lá de unha arranjada e cabelo novo....