domingo, abril 28

One chef down


“Vou para fora porque em Portugal não me sinto útil”, diz Fausto Airoldi.

Depois de 30 anos a lutar pela identidade da cozinha portuguesa, o chef Fausto Airoldi vai deixar Portugal. O primeiro destino é Macau."

In Publico Life & Style


Já muita gente disse que este país é um país de parolos. E, no fundo, até é mesmo. Ou nem é preciso ser no fundo. 
Somos um povo de gente que gosta de sardinhas, de frango de churrasco e de cabidela. E de garrafões de vinho. 
Gostamos de feijoadas e de cozidos. De enchidos e salgados, e também gostamos de arroz doce e aletria. E melancia fresca e melão de Almeirim no Verão. 
Na minha terra vai-se comer fora para comer Sarrabulho ou um Bacalhau à Casa. 
Eu, como a generalidade dos portugueses, gosto de ir comer fora para encher o bandulho. Se me apresentam um prato do tamanho de uma pia da louça com duas azeitonas a boiar numa espuma verde com ar de experiência química com uns fios a sair e a serpentear pelo prato, eu fico a pensar que fui enganada, até porque já sei que vou pagar o equivalente a 5 tiras de entrecosto grelhado e duas doses de ensopado de borrego. Com batata e salada. E pago isso para ficar com a barriga cheia.. de fome. 
O bom português é assim. Até paga, mas gosta de comer. E bufa se não lhe dão de comer como manda a sapatilha.
E a nouvelle cuisine, ou cozinha de autor, não se compadece com esse estilo de vida. 
Gosto da arte de cozinhar. Ou melhor - gosto de OBSERVAR a arte de cozinhar, porque não percebo nada de cozinha e além de uns escassos itens mal amanhados, pouco mais sei fazer. 
Filha de um Chef que o foi durante 40 e tal anos, português de gema que prefere ficar em casa a grelhar um frango num grelhador feito de um bidão por ele próprio, debaixo duma palmeira a sair de casa para gastar dinheiro em restaurantes, apanhei-lhe o gosto por comer à portuguesa. 
Das mãos dele vi sair verdadeiras obras de arte culinária, no hotel onde trabalhava. Nunca quis saber muito de nouvelle cuisine, dizia que tinha muita sorte em não precisar de sequer ouvir falar nisso. Cozinhava a sério, para pessoas com fome. Umas com bom gosto, outras com menos, mas todas com fome. E matava a fome aos turistas não com qualquer lavadura de buffet, mas com iguarias que faziam as pessoas voltar e perguntar "tem cá aqueles bifes com molho que tinha o ano passado???".
Eu sei. Nada a ver com os Chefs que vemos na TV. Esses sim, ganham bons punhados de euros para fazer aquelas gaiolas no meio dos pratos que poucos sabem como comer, sendo que a maior parte se come à mão, mesmo. Não digo que não goste de ver. Mas dificilmente iria gastar dinheiro num restaurante onde soubesse de antemão que iria passar fome. E pagar principescamente, pior. 
Mas Portugal mudou. Portugal já pouco dinheiro tem para comer. Até os ricos se contém. 
Num país com pouco dinheiro para comer, em que as famílias já saem só ao Domingo para ir ao McDonalds comer menus ou à churrasqueira do fundo da rua onde se compram 2 frangos e oferecem as batatas fritas, a cozinha de autor fica onde nunca saiu - no espectro de uma elite. E uma elite cada vez mais, ela também, pobre. 
Por isso, os nossos artistas da culinária emigram. Vão embora, desiludidos com o facto de este ser um país de parolos. 
Mas querem saber? Eles não são mais do que as centenas de portugueses que emigram hoje em dia. Mas estes, não emigram pela desilusão de não verem a sua arte valorizada. Emigram porque não têm dinheiro para comer, e para alimentar as suas famílias. E vão sem qualquer garantia. Estes artistas, com os seus conhecimentos, vão com emprego certo e salário sempre chorudo. 
Eu respeito o trabalho de todos. destes nossos chefs que emigram também. Mas não é necessário vir dizer que estão desiludidos com o país porque o português não reconhece a sua arte. Não precisamos que nos chamem parolos, nós sabemos que o somos, só não gostamos que nos chamem isso.
São obrigados a emigrar? Paciência. Muitos pobres mortais também. e muitos querem e não conseguem. E a maior parte que vai , quer voltar um dia. 




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