Digam lá: há quanto tempo não ouviam esta expressão???
Há dias, um miúdo de 16 anos calou uma senhora doutora vinda directamente da Tail... Holanda onde estava a fazer não-sei-o-quê, para comentar no Prós e Contras, da RTP.
Há uns 20 anos, eu amaldiçoava quem vinha com a conversa de que se tiravam cursos para ir servir às mesas. Mal eu sabia que isso havia de ser uma realidade. Pior, a realidade é o desemprego, mesmo. Hoje amaldiçôo o facto de não ter ido mas é trabalhar logo no fim da escolaridade obrigatória.
Relvas à parte (que esse é DR. só de araque), entra-nos pela sala dentro , volta e meia ou todos os dias, o resultado da burrice destes doutores da mula russa que nos des-governam, e dos que andam em pulgas para os substituir. Políticos são sempre assim, se formos ver, nunca fizeram nada na vida a não ser isso mesmo - Política.
Os políticos não fazem nada sem as suas hostes de secretários, sub-secretários, assessores e demais acólitos: todos eles doutores da mula russa, na sua maior parte, recém largados dos cueiros da faculdade, carregados de falta de experiência, e de conhecimentos técnicos inexistentes, ou, pelo menos, duvidosos. Já para não falar nas comissões disto e daquilo, constituídas por tubarões da teoria, das mais diversas áreas, que raramente põem o pé na rua para ver o resultado das porcarias que ajudam a vomitar cá para fora.
O povo, minha gente, o povo tem fome. Sobretudo, fome de respeito. Fome de consideração. O povo, cujos filhos já não podem ir estudar se quiserem, porque o Estado não paga bolsas e aumenta as propinas, e porque o pai e a mãe estão endividados e penhorados até às orelhas, e os avós ou já morreram de desgosto quando perderam a casa que compraram com tanto esforço, ou vivem no limiar da miséria com reformas em vias de extinção e sem medicamentos ou médico de família.
Ponham as mãos em concha e oiçam: o povo já não clama por salários maiores, por salários conformes às directivas europeias. O povo clama por TER um salário. O povo que tem um salário clama pelos subsídios de natal e férias e pelas reformas, vá, que eram direitos até aqui, absolutos. O povo que não tem um salário clama por ter um, e já nem se importa com os subsídios.
Mas os doutores da mula russa não sabem isso. Ou não ligam. Uns, dizem que o povo aguenta. Outros, os do outro lado, dizem o trabalhador tem que ganhar mais e trabalhar menos, a bem da sua dignidade.
Dignidade é TER um emprego. Dignidade é ter contas para pagar e ter pelo menos 485 € por mês garantidos para poder pagar, e que não suscite a obrigação de passar um recibo verde, com tudo o que isso implica. Luxo não é, não dá para muito mais que o básico, às vezes nem chega, mas é melhor que nada. Temos milhares de famílias completamente desempregadas. Sem subsídios. À parte dos sanguessugas que viveram décadas à custa de baixas e subsídios de desemprego indevidos (que esses não me merecem qualquer consideração e merecem qualquer miséria que sobre eles se abata), temos gente que teve que fazer um downgrade à vida para sobreviver. Porque é preciso adaptar.
As empresas fecham porque não conseguem suportar tantas cargas fiscais e tantas responsabilidades laborais. Fecham, porque a cultura de comprar o que não é nosso se instalou enquanto houve dinheiro para gastar. Fecham porque o Estado prefere encher os bolsos aos bancos do que ajudar a recuperar as empresas com viabilidade. Algumas fecham porque foram mal geridas. Certo. Chama-se saneamento, e acontece em todas as crises - só ficam de pé os que se aguentam - nem que seja de quatro.
Perguntem às pessoas do interior, das zonas ditas menos favorecidas, o que achavam se abrisse na terra delas uma fábrica que pagasse o salário mínimo aos funcionários...
Voltando ao assunto do miúdo Martim do Prós e Contras. O miúdo começou a desenhar umas sweat-shirts para ele. Os amigos gostaram. O miúdo viu o potencial e foi arranjando quem lhe costurasse as sweats e os restantes modelitos de forma a manter preços agradáveis ao povão. E conseguiu, publicitou, arranjou quem lhe propagandeasse o produto, de amigas giras da escola a desportistas, de forma a que está já a exportar, e está a dar um trabalhinho jeitoso a uma qualquer fabriqueta de confecções nacional, e não anda por aí a fumar cenas e a pertencer a gangs. Ora vem a senhora doutora da mula russa, do alto da sua secretária do Prós e Contras e do seu currículo de pessoa de 34 anos que pelo visto nunca fez mais nada na vidinha senão... estudos, e a inscrever-se em associações internacionais disto e daquilo , perguntar, com um tom abusadoramente trocista, se o miúdo sabia se as sweats não estavam a ser na China, porque não-sei-quê dum estudo que ela fez... e, face à resposta negativa do miúdo Martim, perguntou logo se sabia quanto ganhavam os funcionários da fábrica que lhe fazia as sweats, se estava de acordo com a directiva comunitária não sei quê.... O miúdo Martim, que não deve ser parvo nenhum, deve ter pensado "Olha'm'esta...", e respondeu muito simplesmente que não sabia quanto ganhavam, mas sabia que tinham um emprego e um salário, ao contrário de muita gente neste país.... e a senhora doutora da mula russa enfiou a violinha no saquinho e calou-se. Estudasses... ou melhor... tivesses alguma vez um emprego a sério, e deixavas-te de passar vergonhas destas.
Enganem-se se acham que digo isto por despeito. Não, senhor. Falo com conhecimento de causa, que quando saí da faculdade tinha a cabeça cheia de pouco mais que nada que servisse para pegar ao trabalho, e saí de uma das melhores faculdades do país, "diz'que". Tive que penar muito cá fora para saber o (pouco) que sei hoje.
1 comentário:
Ó doutor, a nossa mula é ruça.
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