segunda-feira, março 20

(In)justiça, ou Justiça in?

Fátima Felgueiras. Aí está um nome que gostaria muito de deixar de ouvir todos os dias. Arrepia-me este confronto diário com a realidade de uns quantos permanecerem acima, à margem, fora da lei. Com requintes de pop stars.
A Lei. Tão madrasta para uns, tão morna, mole e macia para outros...
A novidade de hoje é que a senhora D. Fatinha não cumpriu as ordens do Tribunal de Instrução de Guimarães, não entregando o seu passaporte brasileiro: porque, hélas, o deixou no Brasil. Imagino o transtorno da senhora, quando viu que não poderia cumprir essa ordem judicial....
Acusada de 23 crimes que todos tem a ver com a confecção de um trés chic, trés B.C.B.G, saco azul, na câmara de Felgueiras, esta senhora tem sido agraciada com a benevolência divina - deve ser pelo nome que tem.
Flash back: uma autarca (a própria) fica a saber (sabe lá Deus por que meios, mas parece-me que também aqui se arranjavam uns processozinhos interessantes...) que foi apanhada no meio do seu tricot, e que seria presente à justiça. Por entre os novelos de lã azul (e não me digam q ela não tinha previsto isto!) a senhora embarca imediatamente para o outro lado do Atlântico. Para mim, neste momento, esta senhora tornou-se uma foragida da lei, digam o que disserem. É certo que, neste país, uma pessoa inocente pode passar uns tempos atrás das grades, enquanto se tiram as teimas. Mas sou apologista do "quem não deve não teme". E ela fugiu da raia. Lá no Brasil, contrata um advogado-tubarão, e mantém cá um advogado que vai fazendo de núncio apostólico, para dar os recadinhos ao povo, e ir entregando uns papelinhos no tribunal. E lá fica, gozando as suas fériazinhas. Tanto acordo de colaboração com o Brasil para tanta coisa, e nada que justifique pegar nesta senhora e recambiá-la para cá... enfim.
Eis senão quando, estrategicamente antes das eleições autárquicas, a Rainha resolve voltar ao seu reino irritantemente cheia de bom aspecto, a fim de retomar o seu trono: juro que pensei "é agora que vai dentro". Nada. Assisti, boquiaberta, incrédula e revoltada, à manobra do regresso: voltou, escapou-se e venceu quer a justiça, quer as eleições. Se os felgueirenses querem idolatrar quem é acusado de se aproveitar deles, isso é mesmo lá com eles. Mas a justiça aqui perdeu feio. E perderá sempre que se permitir a impunidade dos que troçam dela. Casas pias, apitos dourados, este, são processos que mostram bem o que a burocracia judicial pode fazer por quem pode.
A mim choca-me. Violentamente. Um tipo qualquer sem eira nem beira, por gamar umas carteiras assim de esticão, é um criminoso hediondo, leva umas lambadas nas esquadras (quando não morre lá, mesmo...), se tiver o azar de ser reincidente ou reclamar muito, ainda vai mas é dentro, só para referescar as ideias, enquanto se investiga. Lentamente, porque às vezes até se esquecem dos presos preventivos e deixamnos a marinar a sua raiva... a menos q eles sejam conhecidos e tenham connections, que aí, ninguém se esquece deles, e o tratamento é vip.
Recursos, incidentes, requerimentos, mais despacho menos acórdão, mais anulação de prova menos acareação... BAH!!! Eles continuam aí. Pior - ganham eleições e tudo. Será que o crime compensa? Custa-me, mas cada vez acredito mais que sim. Espero o dia em que me provem o contrário.

Fonte: Público Online

2 comentários:

Sofia Melo disse...

é... viva o rei dos frangos, o rei do calçado, o rei da francesinha, o rei das farturas e dos churros, o rei do hot-dog, o rei da cocada preta, o rei na barriga, o rei morto rei posto...

Anónimo disse...

Pois é. Não posso deixar de concordar com o Alvaro. Desde que se saiba como ou se tenha alguem que o faça por nós - a troco de uns bons tostões - é possível dar a volta ao sistema. É nestas alturas que me pergunto se vale a pena continuar na profissão. De qualquer maneira nunca é do lado de fora que se fazem as mudanças. Cá continuo á espera de fazer a diferença.
K