quarta-feira, março 22

Sleeping Beauty

Numa altura em que temos de volta a nossa LILI, recauchutada, impermeabilizada e esticada, seguida do seu séquito de aduladoras do Botox, impõem-se algumas considerações sobre estas coisas da estética e da beleza. Na Vogue do próximo mês, dei com um artigo da Patrícia Barnabé, precisamente sobre estereótipos de beleza. Não o transcrevo todo, porque é muito extenso, mas pouco falta...
"O Renascimento só podia ter acontecido em Itália, disse-me uma colega uma vez (...). É inegável a beleza dos traços italianos, a sua sensibilidade para a harmonia de proporções". (...) 'Beleza é fundamental'. Pelo menos assim é para as leis da atracção que nos dizem q a primeira coisa que reparamos numa pessoa é no seu aspecto. (...) É claro que a definição de beleza é muito lata, pois depende da subjectividade de quem a contempla, mas, mais do que possamos ter consciência, ela é um corolário de tendências sociais e culturais. 'De uma maneira geral, a beleza física é consistente e universal, pois a maioria das pessoas, com graus diferentes de beleza, avaliam-na da mesma maneira.', diz o professor (e psicólogo social) José Manuel Palma.. E cada cultura tem as suas particularidades. Nos países latinos, dá-se muita importância às ancas (...), em algumas tribos africanas, realça-se o volume do rabo feminino (...). Da mesma forma, enquanto nos Estados Unidos o peito proeminente é muito apreciado, em certas tribos índias, é valorizado o peito descaído, porque é sinal de idade e posição social. No Oeste asiático, adoram-se os pés (...) e a pele branca (vejam-se as gueixas), no Ocidente, valoriza-se o bronzeado, e nos países àrabes, isso é irrelevante, importa o olhar de uma mulher (...). Mas até a gordura, que consideramos um tema mais ou menos consensual, não o é de todo: 'Nos países árabes, preferem-se mulheres roliças, no Ocidente, perseguem-se as formas mais esguias.' diz-nos José Palma.(...) Basta observarmos o ideal feminino através da arte de várias épocas, e não encontramos um consenso. Assim, as belezas clássicas do cinema - Marylin Monroe, Elizabeth Taylor, Sophia Loren, Gina Lollobrigida - teriam, à luz da estética contemporânea, um pequeno excesso de peso. Regra geral, dizem os livros, a atracção baseia-se na diferença entre os sexos, por isso é natural que as mulheres procurem enfatizar os seus traços mais femininos (...) e o mesmo é verdade para os homens. Talvez o mais 'científico' dos critérios da estética do corpo feminino seja a relação entre as ancas e a cintura, que, segundo os estudos, na sua perfeição, atinge o rácio universal de 0,7 (dividindo a medida das ancas pela medida da cintura). 'No que diz respeito ao rosto', completa o professor, 'a avaliação da beleza é menos sensível às tendências culturais, porque está ligada à simetria e proporção. Também aqui, um rosto é tão ou mais agradável para o sexo oposto quanto mais vincadas forem as características do próprio sexo: Olhos grandes, sobrancelhas finas e pele macia nas mulheres, e os maxilares demarcados nos homens. (...) A partir dos anos 60, começou a se admirar os corpo das manequins (...): mulheres muito altas e muito magras. (...)Mas tempos houve em que a mulher da passerelle e a mulher da revista masculina eram a mesma, tempo esse resgatado aos anos 90, pelas supermodelos. ‘ A Cindy Crawford, a Cláudia Schiffer, a Elle McPherson, a Naomi Campbell eram, sem dúvida, Mulheres GQ’ (Bruno Lobo, chefe de redacção da revista GQ). Hoje, ocorre-nos as modelos que desfilam para a Victoria’s Secret, como sendo ideais de beleza para ambos os sexos. (...)
Foi feito um estudo onde se provou que o tipo de corpo que a mulher considera mais atraente não confere com a silhueta que o homem prefere. Elas gostam de magreza, eles gostam de curvas. Elas lêem a Vogue, eles, a Playboy ou as congéneres modernas. (...) O professor José Manuel Palma vai ainda mais longe nas conclusões e diz que há uma opinião espelhada: ‘ Os homens gostam nas mulheres daquilo que gostam neles próprios: corpos voluptuosos. Assim como as mulheres preferem homens magros, como elas gostariam de ser.’ (...)
A sexyness é, de facto, uma matéria-prima do espectáculo, ‘sex sells’, por isso, não espanta que as capas das revistas e as campanhas publicitárias, cada vez mais apostem em Hollywood. Todas queremos ser assim: belas, mas reais. Vista assim, a beleza é uma ditadura? ‘É. Todos gostávamos de ser bonitos.’, afirma José Manuel Palma, porque ‘as pessoas não são apenas atraentes, elas têm uma espécie de ‘halo social’ que nos faz pensar, subconscientemente, que também têm outras características desejáveis: são simpáticas, sensíveis, sociáveis, têm mais sucesso, mais dinheiro, , e, por conseguinte, mais felicidade.’
A poetisa Safo escreveu : ‘O que é belo, é bom’. E isso é percepcionado desde a infância. Na escola as crianças mais bonitas são normalmente as mais populares; assim como é prestigiante ter um companheiro atraente, porque nos torna mais atraentes aos olhos dos outros. (...) (a beleza) É um Kick out, um ponto a favor.
Se eles nas mulheres preferem o peito, a zona das nádegas e das pernas, estudos comprovam que nós mulheres fazemos julgamentos mais complexos e variáveis. Ao contrário do que eles pensam, não nos interessa o tamanho (dos bíceps, do pénis). Segundo uma investigação feita pelo jornal nova-iorquino Village Voice, elas consideram o rabo pequeno como a parte do corpo mais atraente num homem, depois a altura, a elegância (abaixo a barriga!) e certas expressões dos olhos e das mãos. E também elegemos características dos homens com quem estamos no momento, sendo menos sensíveis a estereótipos. Curiosamente, segundo o professor, existe mesmo uma teoria da Psicologia, a 'matching hypothesis', que diz que ‘as pessoas emparelham por grau de beleza, o que tem a ver com o nível de auto-estima de cada um: quanto mais belo me acho, mais beleza exijo do meu par. ‘ (...)
Mas a atracção vai muito além da beleza, não vai? ‘Avaliar uma pessoa é um processo de negociação’, diz José Manuel Palma, ‘essa pessoa tem que ser globalmente atraente mas também tem de te dar importância a ti. Depois observam-se outras características, no caso feminino: se nos faz rir, se pertence ao mesmo grupo social. (...)
Também é recorrente dizer-se que nunca se cultivou tanto o sex appeal. É verdade? ‘O sex appeal é a manipulação de características físicas como elemento importante da interacção e atracção social. Em todas as sociedades, o sexo tem sido dominante. (...)
E a nossa avaliação de beleza, influencia o amor? ‘Claro. Não há amor sem atracção’. Mas esta não chega. ‘ Esta não chega, mas é pela atracção que tudo começa. A beleza é um filtro, e cada um tem o seu’ , conclui. E gostos não se discutem.
John Dome tentou responder-nos quando escreveu: ‘Os mistérios do amor crescem na alma. No entanto, o corpo é o seu livro. ‘

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