domingo, abril 2

CEJ'amos francos...

Há muito tempo que não me sentava nos duros bancos da minha vetusta faculdade, com o intuito de prestar provas. Mas, tais não eram as saudades, voltei lá. Já quase me tinha esquecido do desconforto, do frio, dos olhares vazios dos colegas à procura de respostas nos azulejos das paredes, da vigilância de milhafre dos responsáveis pela sala. Com uma agravante, desta vez: as provas eram para quem quer ser juiz ou magistrado (não para mim, de certeza, que até agora não sei o que fui lá fazer.... e foi isso que me fez levantar ontem às 8h da matina - para ver se estudava qualquer coisinha, pelo menos uma manhã de estudo tinha q ser...) De repente, recuei 10 anos no tempo, ao sentar-me ao fundo da sala, com um enunciado de 6 páginas na frente. Dada a minha manifesta falta de estudo, e ainda mais manifesta falta de nervos (causada, evidentemente, pela falta de estudo!), gastei a 1ª meia hora, pelo menos, a observar o ambiente na sala: parecia o aeroporto numa rush hour - uma infinidade de malas de viagem enormes (sim!) cheias de livros e dossiers, cadernos e folhas soltas. Malas abertas, livros espalhados por todo o lado, garrafas de água, chocolates e relógios, num quarto de hora a sala parecia devastada por um furacão. O pessoal (aí umas 60 pessoas ou mais - eu queria ter ficado no auditório da FDUC, o "Caixão", onde estavam, pelo menos, o triplo das pessoas ) estava tão absorto no meio dos seus profundos conhecimentos de direito (presumo eu), que foi muito engraçado olhar para aquelas caras aflitas com a falta de tempo para escrever toda essa doutrina e jurisprudência que passaram tempos infindos a estudar. Foi giro tentar interpretar as expressões dos colegas: se estavam ali porque perseguiam o sonho da magistratura, se apenas queriam sair do desemprego, se tinham estudado muito, se tinham estudado pouco, se viam a sua vida andar para trás, se acreditavam que era desta,... foi gira esta apreciação sociológica, porque nas provas da faculdade nunca tive tempo para observar coisas deste género. Mais: olhei para o pessoal e pensei quais daqueles seriam os nossos próximos juízes. Dei comigo a rir-me para dentro e a cogitar: "Todos menos eu, abrenúncio.... ". Fui lá só "pra ver a bola". Boa sorte aos colegas, também para as jornadas seguintes, espero que tenham marcado, e continuem a marcar, muitos golos.

4 comentários:

S Guadalupe disse...

Também nisso??? Quantas páginas escreveste, só por curiosidade? Ouvi dizer que é a metro...

Sofia Melo disse...

10 páginas da mais sábia asnice.... é mais ou menos a metro, especialmente nestas provas, que é a contar com o "desconto" que eles fazem. Como o ano passado parece que perderam páginas das respostas do pessoal, toca de escrever.... hehehehe

tiago m disse...

10 páginas! ainda te safas, vais lá parar sem saber como. Pelo menos ficamos com uma juíza com bom senso, qualidade fundamental e quase única para o cargo.

Sofia Melo disse...

ahahahah!! Sim, se lá fosse parar, realmente não perceberia nunca como tal teria acontecido... o bom senso é essencial nos juizes, sim senhor, qualidade QUASE única: a mim falta-me o QUASE.. e bom senso, tem dias... ;)